quarta-feira, 1 de agosto de 2012

POEMA  DE OCASIÃO

I

Sentei-me a olhar
O NADA
O NADA é curioso
não  tem sabor
mas tem cheiro
é invisível mas sente-se
     
       O NADA
      transpira um odor estranho
      um cheiro a humidade
      a bolor
      a azedo
      como aqueles quartos
      onde há muito tempo não dorme ninguem
     
O NADA tem vida própria
e sem sentirmos
nem consentirmos
dá-nos a mão subrepticiamente
e de repente
estamos do outro lado do NADA
E só então
sentimos dentro de nós
 peso irreversível
da realidade do NADA.



II


Lá fora o vento suão
não deixa medrar este verão
a areia tem pernas para andar
e é curioso ver o mar
 tão socegado
plantado no seu lugar

Os humanos
de costas viradas ao vento
como bandos de gaivotas
numa manhã de invernia
aconchegam-se quietos
pensando naqueles dias
do Tempo do antigamente
quando ainda  havia calor
e a romaria nas praias
tinha esse doce sabor
cristalizado em memórias

Tudo mudou para pior
porque nenhum computador
é capaz de alterar
a inversão deste verão
que nos faz refletir
no que ainda está para vir

Abriram o ventre da Terra
sugaram o leite e o mel
quando o mar subir de nível
e  já não houver areais
será engraçado de ver
gente fina e poderosa
a sobreviver como animais

                  Já cá não estou nesse Tempo
                  no fim das religiões
                  na Terra repovoada
                  de clãs de canibais

Nada dura para sempre
 a genética evolui
os recursos são poeira
a Civilização reflui
e o pouco que resta de terra
onde havia continentes
é uma ilha-cemitério
é o elo
é o Destino antecipado
a maturação da semente..



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