quarta-feira, 19 de setembro de 2018

As Fábricas dos Partidos

Vou-vos contar uma  estória.

1. Há muitos anos atrás numa pequena cidade do centro do país existia uma formação partidária de cariz pseudo social-democrata (designação que, ainda hoje, ninguém sabe o que "isso" é).

2. Nessa agremiação, ou associação, ou tribo "social-democrata" (de que um dos fundadores até foi nosso  condiscípulo) criou-se uma "secção da juventude em que, meninos e meninas dos, sei lá... 8 aos 12-13 anos participavam em actividades "de rua" para que o Zé Labrego-votante pasmasse ao ver tanta inocência aos saltos...
3. Uma dessas actividades foi, ao tempo, uma passeata pelas ruas da cidade de bicicleta, com um barrete enfiado nas inocentes cabeças, barrete com a cor e a sigla da tal agremiação partidária. Não sei se num sábado ou domingo de manhã. Não estamos seguros no dia de semana. Seria num sábado? Mas ao sábado ainda havia trânsito e comércio aberto; seria num domingo? Mas aos domingos a carneirada-votante costumava debandar para a Figueira da Foz.

4.  Organizou esta "paródia volante" o Responsável, ao tempo, pela Juventude dessa associação e que era, simultâneamente, se a memória não me falha, Presidente duma Associação de Estudantes. Repare-se como se encaixam na perfeição a estratégia manhosa  e os degraus da ascensão rumo a um futuro a médio prazo duma vida profissional de: " nada fazer de útil para os mais necessitados" e recebendo do dinheiro público um ordenado chorudo e vitalício. É a Política e é Portugal no seu máximo esplendor do Abril Democrático.

5. Continuando: a rapaziada de menor idade lá seguiu rua abaixo e rua acima, avenidas e centro urbano, barrete enfiado com o líder da Mocidade à frente berrando palavras publicitárias. Já não me lembro havia algum carro de apoio com altifalantes (género CGTP) aos berros para acordar os que ainda descansavam.

6. Hoje, já em 2018 d.C., o referido Chefe dessa Marcha, Presidente da Juventude dessa Época e Presidente da tal Associação de Estudantes ocupa um belíssimo cargo que penso  não será nacional e, que nos recordemos, nunca o ouvimos citado como desempenhando funções profissionais tão banais como médico, advogado, director de empresa ou de uma sucursal bancária ou mesmo Presidente de um clube desportivo. Penso que - passados 34 ou 35 anos o referido Mestre da Banda vários cargod políticos de topo . daqueles em que fala muito de Democracia e nada se produz de útil para promover a Justiça Social e combater a Miséria - que está generalizada.

7. Fica a pergunta: quantos milhões de euros foram tirados à boca dos Portugueses e metidos no bolso desta rapaziada das Juventudes Partidárias"?

8.  E já agora outra pergunta: CONTINUA SEM HAVER DINHEIRO PARA CRIAR UMA ENFERMARIA PEDIÁTRICA MODERNA PARA AS CRIANÇAS DO HOSPITAL DE S. JOÃO COM DOENÇAS ONCOLÓGICAS.

9. Partidos para quê se os jogos de compadrio e de Poder corroem a alegria e o futuro do Pais?

quarta-feira, 20 de junho de 2018

OS  MURMÚRIOS  DOS  SONHOS

Os Sonhos são memórias cristalizadas no nosso cérebros de pessoas que pertenceram ao nosso Passado. São recordações oníricas de seres com quem comungamos a vida mas que se aproximam de nós limpas de ruídos e ausentes do mundo real onde viveram.
Nos Sonhos viajamos de mão dada com ente queridos por terras que se criam no silêncio e na obscuridade da noite. A Avó que nos sorri e almoça connosco numa sala estranha e acolhedora, amigos que nunca mais vimos nem veremos, um filho tornado criança que ri e corre na nossa frente num jardim estranho. Os Sonhos são memórias liquefeitas pelos neurónios e transformadas em correntes cénicas silenciosas e imateriais transformadas em imagens que flutuam numa outra dimensão. Até que ponto os Sonhos são uma criação consciente? Ou, como o Universo, nós temos mais que um Cérebro, um outro Cérebro que "acorda" e "vive" enquanto o Cérebro-orientador repousa? Mas há os Sonhos voluntários, aqueles que nós chamamos ao nosso Consciente quando estamos acordados e temos o Corpo em repouso. Também são apelidados de Memórias. Mas para mim, quando chamámos à nossa presença as Memórias boas de uma Realidade já extinta e as revivemos com um Carinho, uma Emoção Nova mas constante, quando vestimos essas Memórias-   recordações com cores, paisagens, actos de amor ou de alegria, quando  pedimos ao nosso Primeiro Cérebro para as criar - ou seja, quando pedimos auxílio ao Primeiro Cérebro para "tornar realidade aparente" os pedaços da nossa Vida Passada que queremos reviver, mergulhamos numa Terceira Realidade: não é a Realidade a que chamamos a Vida Real, mas também não é Realidade dos Sonhos. É uma Realidade que se vive acordada mas sem Substância - sem sons, sem dimensões, sem personagens vivas - mas que existiram ou existem. Podemos então sugerir que também há dois géneros de Sonhos: os Voluntários, que criámos acordados, orientando nós o que pretendemos sonhar ou imaginar e os Sonhos do chamado Subconsciente (Segundo Cérebro?) - aqueles que de repente povoam a nossa mente mergulhado no Estado de Sonho.
Mas são os Sonhos que conscientemente criamos quando estamos acordados que mais nos marcam porque podemos "sonhar o que desejamos sonhar" .O nascimento de um filho, revê-lo ainda nas suas primeiras horas de vida, imaginar sentir a sua pele tão macia e os seus olhos enormes pousados nos nossos com uma doçura mais divina que humana; ou ir ao encontro do nosso Primeiro Amor, tentando sentir dentro de nós o êxtase antigo ao pousarmos os nossos olhos naquele rosto que amámos como se nele estivesse escondido toda a nossa vida e as nossas forças; ou o dia do nosso casamento - a excitação, a simbiose da Alegria e da Responsabilidade, o alívio por termos sido aceites pela Pessoa Amada. E a Segurança de sabermos que nunca mais estávamos sósinhos. 
Os Sonhos acordados são uma Força que ajuda a quebrar a Solidão mas tantas vezes nos ajuda a suportar a Incompreensão daqueles que nos deviam aceitar sem reservas. É nesses momentos de encruzilhada que queremos regressar à Adolescência, quando éramos quase livres e ainda saboreávamos a frescura das folhas das árvores, o sabor doce e ácido das maçãs espalhadas sobre a palha na pedra dos lagares, quando íamos à corte do gado afagar os pescoços macios dos grandes barrosões e a alegria de ouvir os seus mugidos chamando-nos para lhes oferecermos mãos cheias de maças. E ainda sentimos hoje o calor da sua baba quente quando sem medo lhes chegávamos as mãos abertas cheias de maçãs coradas aquelas bocas enormes que para nós era como mãos de amigos queridos. E nesses Sonhos-âncora voltámos a subir as escadas de madeira pousadas nas altas ramadas e voltámos a colher os gordos cachos a caminho dos lagares. E à noite voltamos a vestir os curtos calções e a mergulhar es pernas brancas e ágeis no mosto quente e voltámos a pisar aqueles cachos sagrados das Vinhas da Vida. E voltámos a sentir o mesmo calor do vinho a começar a fermentar e a pele das pernas a começar a ficar quente e espessa como se mãos estranhas as apertassem com estranho vigor. E ouvíamos as vozes dos jornaleiros cantando ao desafio e sentíamos o Aroma das sardinhas a assar dentro do forno antigo. Os Sonhos que sonhamos quando estamos acordados murmuram-nos Lembranças e Sensações que abraçarmos como se o Outono da Vida nos quisesse afogar.  (José Quinto Barcelos, 4ª feira, 20 de Junho de 2018 - 11:56 horas).