sexta-feira, 24 de agosto de 2012
UM DESEJO ONÍRICO
Era hábito António apanhar com carinho folhas de plátano amarelecidas pelo Outono.
Escolhi-as com cuidadoso desvelo, sempre as mais bonitas, as mais sumptuosamente pintadas naquele ouro velho e vermelho sêco que só a Mãe Natureza é capaz de criar.
Trazi-as para casa e guardáva-as carinhosaqmente num livro criteriosamente escolhido .
Dizia-lhe tanto uma simples folha sêca!
A harmonia das suas proporções;
a perfeição requintada do seu desenho;
a opulência das suas cores orientais!
Nesses momentos tão privadamente vividos e sentidos António refletia sobre a possível existência de outros mundos nascidos na seqência tranquila dos dias, na .espiritualidade estranha mas toda ela repleta de poesia e de rituais mágicos. Mundos onde se misturavam, numa atividade serena mas contínua, momentos de êxtase com antigas canções oradas num murmúrio.
António visionava-se em cidades com palácios e templos edificados com materiais raros que refletiam num vasto lago espasmos de magia sob a cintilação da Lua.
António sentia-se cruelmente desajustado no seu Tempo e no seu Lugar. Babilónia, Tebas ou essa Bagdad das Mil e uma Noites com jardins esplendorosos, aromas embriagadores e pátios onde as sombras se enleavam no sussurro das fontes.
Noutros momentos de alheamento dos ruídos bárbaros da cidade mecanizada sentía-se transportado para o Al-Andalus do século X, vagueando socegado pela soberba Córdova ou cruzando a ponte em direção às Portas de Toledo onde numa harmoniosa fusão de mentes humanas e de tolerância universal era preservada a Herança Clássica Greco-Latina pelos grandes Pensadores Judeus e Muçulmanos, essa Fraternidade do Saber, única e já extinta.
Era um Tempo abençoado pela Natureza onde se preservavam os grandes espaços para cavalos soltos, para os vastos pomares de citrinos, romãs e vinhedos cujos aromas se misturavam com o luar e os alaúdes dos serralhos. Era um Tempo onde a Dignidade e a Honra de um Homem tinham o peso da Vida.
António não nascera para viver em comunhão com as máquinas que aprisionam os sentidos, para viver cativo de horários e objetivos, para viver num mundo em ninguém queria ficar para trás.
Por isso António sentia-se triste quando via nos céus o voo livre de um estorninho ou de uma gaivota.
Podia ser eu, pensava ele num dos seus silêncios. (13:21)
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