terça-feira, 24 de julho de 2012
O TEMPO DE VIDA
Escorre como fio de água
de torneira mal fechada
o relógio da cozinha
silencioso
como os passos de um frade
que caminha sem andar
marcando em nome de Deus
o tempo que resta
no açafate do Tempo
Onze horas
já onze e meia
três da tarde
daqui a pouco é Natal
e ainda estamos em Julho
Olho retratos antigos
Santo Deus como eu era
tão magrinho
e com cara de menino
e tanto cabelo preto
dava ares de S. José
Agora leio o Notícias
numa mesa de café
fingindo ser o Pessoa
À volta desempregados
a emborcar Super Bocks
com Sagres à mistura
num bota a baixo o que vier
pago eu e pagas tu
que o Governo é assim que quer
É este o Tempo de espera
à espera de morrer
sei que deprime pensar
refletir no que vai vir
sejamos gente de fé
e o que vai vir que se lixe
não dizem no mundo islâmico
que o Paraíso é fixe
Nada podemos fazer
para evitar a colisão
daquilo que eu queria ter
daquilo que tem de ser.
.
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