terça-feira, 10 de abril de 2012

ZÉCA AFONSO

Foi colega e amigo da professora de Latim e Grego Ema de Jesus Rodrigues,  foi primeiro aluna e mais tarde professora muito estimada nesse grande Liceu Nacional Infanta D. Maria, em Coimbra. Aluna como nós (o marido) de Professores distintíssimos como Helena da Rocha Pereira, Walter Medeiros e outros que tornaram grande a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a Ema, a Emazinha, a Ema-Gaivota foi colega de José Afonso no mesmo período em que ambos cursaram as Letras, ela em Clássicas e ele em Românicas. Conversavam, provavelmente sentar-se-iam à mesma mesa no famoso bar do 1º andar da Faculdade, provavelmente tiraval dúvidas de textos latinos. Aliás a Ema era aluna distintíssima em Latim.

Já ambos partiram, já ambos são "pó das estrelas", ou Anjos.

Mas não é para falar da Emazinha que eu me sentei diante do meu Compac. A dor pela sua perda, os remorsos por não lhe pegar mais vezes nas suas mãos tão delicadas, os remorsos por não lhe dizer todos os dias: "amo-te tanto" é um segredo e uma dor que guardo para mim. Mas, hoje recordei este grande poeta, este trovador incansável do mais puro lirismo útil para a Arte e útil para todos os Povos. Porque aqueles que "Comem Tudo" são planetários e intemporais. Eram os agiotas do Templo de Salomão, são os grandes arquimilionários do Oriente e das Áfricas, são os nossos simpáticos banqueiros que confraternizam e jogam golf a meias na Quinta da Marinha, são os po´litiqueiros que na Assembleia ou nos corredores dos Ministérios saltam de Partido em Partido como os treinadores, de clube em clube. Vimos hoje um na televisão, luzidio como um "bácorozinho recém nado", com um bronze num rosto gordo de muitos almoços em restaurantes da Linha, ou à beira Tejo.

Zéca Afonso é possível que no seu imaginário, como Cristo (dizem), sonhasse cooperar na edificação de um Portugal igualitário. Uma espécie de Utopia na segunda metade do XX. Mas o Poeta não era há muito um Homem deste mundo. A bondade com que respondia às traições que sofreu em Coimbra e que algumas desabafou com a Ema, a lealdade, o companheirismo, a amizade incondicional com que convivia com os seus amigos e companheiros de jornada, mesmo para com aqueles que "metiam o rabo entre as pernas" e o deixavam só quando a sombra da PIDE se aproximava todos estes valores só germinam numa Alma grande e rara.

Como um apaixonado por música que para mim é de qualidade (bem construída e que nos arrepia ao ouvi-la), música que dialoga connosco e entra dentro de nós e se mistura com os nossos sentidos, eu sempre "me estive nas tintas" para a ideologia partidária de José Afonso. Para mim, ele era GRANDE como poeta, como músico e como humanista. Sempre que me sinto "mais em baixo" - o que é comum nos viúvos, nos cornudos e nos homens sérios desempregados, ouço as canções desse Grande Senhor que não merecia morrer da forma como morreu e, nessa tragédia, ele e a Emazinha são irmãos.

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