terça-feira, 17 de setembro de 2013

A CONFISSÃO

Não sou ninguém nem ninguém me conhece / não sou importante nem regi uma orquestra ou fiz um transplante / não sou político nem figura pública / e tenho insónias quando penso na miséria que gente importante semeia todos os dias/. Sou como as areias do Saará que o vento leva e traz / faz ondular e caminhar como se fossem não corpos / mas os Espíritos Antigos de Civilizações Perdidas mas que vão ser reencontradas. / Olho à direita e à esquerda e é tudo igual é tudo cimento e metal e
ganância sem controlo na mão de quem tudo controla/ é a Segunda Peste Negra que devagar e silenciosamente como o caruncho escondido vai corroendo tuda a Perfeição que a Criação criou. / E eu sou assim - um espectador silencioso e sem voz activa cujo cérebro trabalha na análise diária deste
descontrolo humano feito de cores coloridas como se a Vida Humana fosse um cortejo de Carnaval./ E a Miséria aumenta e a semente do Mal alastra levada pela Lei criada para o efeito / e os agentes do Mal são gente tão inocente e sempre com a consciência tão branca e tão serena./ E todos os dias
vemos esses rostos sempre tão risonhos com um riso doce como o Pai Natal  a olhar para nós / e nós sabemos que eles são os nossos carrascos os que pregam a Democracia e incendeiam o Futuro / que
vão às cerimónias religiosas e citam o nome de Deus como quem bebe um copo de vinho / e todos os dias vemos os rostos dos que bebem o suor de um Povo inteiro e afagam as crianças no colo dos que sofrem / e todos os dias eles mordem mais fundo e todos os dias vamos ao futebol ou a um restaurante / porque a Pátria Antiga deixou de viver de existir de resistir  é a globalização que funde num todo / como numa imensa siderurgia a Poesia Antiga que era a Mãe das Nações / Por isso quem pensa no Passado que foi já não é ninguém apenas uma placa velha duma rua sem saída e sem vizinhos vivos. / O mundo são são seis biliões de bocas abertas com sede e com fome e com falta do ar das florestas extintas e um bilião de gente pasmada teleguiada que não sabe afinal qual o Ponto Cardial do seu amanhã / porque nem sequer lhe ensinaram o que é um Amanhã porque esse bilião gira de cá para lá e no seu inverso sem saber sequer se ainda é realmente um pedaço do Universo.

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