DE MEDROSO A RELIGIOSO

1. - Há 4.000.000 de anos, mais coisa, menos coisa, o Hominídeo era "medroso". Os fenómenos mais violentos da Mãe-natura causavam-lhe pânico e punham-no em fuga. A incandescência de um relâmpago, o bramir surdo de um trovão, o "fundão" de um simples rio que, num ápice engolia um companheiro que tentava agarrar um peixe e, repentinamente, desaparecia no meio de águas que pareciam mansas, um sismo...

Os tetravós dos nossos avós eram MEDROSOS.


2. - Ao utilizarem as mãos sistematicamente quer para procriar, quer para parir, quer para se alimentarem, quer para fugirem ou se defenderem, as nossas sementes humanas ginasticaram o cérebro e o cérebro, sistematicamente estimulado, acelerou e tornou-os "mais atentos", quer ao mundo circundante, quer aos fenómenos pouco usuais. Se a terra tremia, "alguém a abanava", se um vulcão acordava duma sesta prolongada, "alguém acendia um fogueira no fundo da terra" e esse estranho e perigoso ALGUÉM tornou-os supersticiosos. Há que pôr umas frutas e umas peles na base do vulcão quando ele se acalma - não vá o Alguém voltar a enfurecer-se; se um relâmpago grelhava uma família inteira ou o uma criança a dormir há que colocar a cabeça dum carneiro e uns calhaus pintados a ocre no cimo do cimo mais acima do vale.

3. - Até que o cérebro atingiu o número de neurónios e as circunvalações suficientes para TORNAR O HOMINÍDEO NUM HOMEM POR INTEIRO. E forma-se uma nova espécie animal: o Homem.
E esta nova espécie biológica vem equipada com uma super-arma: a capacidade de FAZER PERGUNTAS.

4. - Se a terra abanou é porque Alguém, algures foi capaz de a abanar; e se um monte vomita pedras, fumo e fogo é porque Alguém tem a força indescritível de criar e projectar o fumo, as enormes pedras, as chamas a perder de vista e a lançar pelas vertentes rios de lama incandescentes. É ALGUÉM invencível e...de mau génio. Há que curvar a coluna, que rastejar, que "criar lugares" especiais onde se possa tentar "mostrar o devido medo e respeito" por esse Alguém invisível, perigoso e capaz de tudo destruir sem qualquer tipo de piedade. Estão criadas as condições para SE LANÇAREM AS SEMENTES DA PRIMEIRA RELIGIÃO.

5. - E quando das fêmeas sai o primeiro sangue da primeira menstruação e logo a seguir outra mulher contorce-se, grita e, numa núvem de sangue, água e placenta nasce um novo ser: então entre a MULHER E O ALGUÉM há um elo que os une - porque se um é uma Força destrutiva do interior da
Mulher nasce um novo ser, já formado, já com voz e, pintado de vermelho - como o ocre da terra.

6. - E a primeira imagem que vai servir de reflexão e de adoração através do silêncio ou de gritos guturais a meio da nmoite à luz de fogueiras é a IMAGEM DUMA MULHER ESPECIAL: REDONDA COMO O PLANETA TERRA, COM OS SEIOS FÉRTEIS DE LEITE COMO AS PLANÍCIES FÉRTEIS DE CEVADA, TRIGO, UVAS SELVAGENS, MANADAS DE GADO.

7. - Mas naqueles tempos a Mulher não vivia sózinha como o Homem também não vivia sózinho (salvo os expulsos dos clãs, os muito velhos ou aqueles em cujo bando não havia mulheres para todos os homens). Daí que a Terra-natura teria que ter um outro Alguém, do sexo oposto para, no interior da Terra ou lá nas alturas se entregassem e se reproduzissem. E nasce o PRIMEIRO DEUS MASCULINO. Estava lançada, na Mente Humana, a semente dua Cosmologia Divina.

8. - Daqui a Wall Street, ao LLoyds Bank, a todos os Morgans do planeta e a todas as guerras foi um pequeno passo. Hoje temos a Guerra do Golfo no seu Terceiro Episódio: o saque petrolífero; o Capítulo Final da Poluição Mortífera do Planeta e a continuação em capítulos da telenovela: COM O MATAR À FOME OS MAIS POBRES DA TERRA.

(sexta feira, 18:36 de 17 de Maio de 2013 - professor Quinto Barcelos, Universidade de Coimbra)