segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sanjinje - o guia Quiôco

Eras magro, esguio, sempre impecavelmente limpo e orgulhosamente vestido com o fato de trabalho do Museu Etnográfico do Dundo e o Laboratório de Investigação Biológica (LIB) anexo ao Museu dirigido pelo Doutor António Barros Machado um entomologista de Fama Mundial. Trabalhámos sob a orientação do António Luna de Carvalho, entomologista amador, investigador auto didacta de grande valor. Ainda guardo o bloco de notas encadernado a couro que me trouxe da ilha da Madeira. Era um homem grande, sempre em calções de caqui castanho, entroncado, óculos grossos mas com uma arte excepcional para o "desenho delicado", ou não tivesse sido "encontrado" na Vista Alegre, onde era desenhador, pelo próprio dr. Barros Machado. Tive o privilégio de a Secção do Pessoal da Diamang me ter colocado a trabalhar com ele. E ele ensinou-me a observar pelo binocular os órgãos internos dos...mosquitos, e a extraí-los com finíssimas pinças. E esse material era enviado para laboratórios espalhados pelo mundo, desde a Hungria comunista, aos Estados Unidos e esse intercâmbio incentivou à criação de revistas científicas magníficas editadas pela própria Companhia.

O Sanjinje ficou encarregado de me guiar, ensinar e proteger nas muitas viagens "pelo mato" organizadas pelo LIB e pelo Museu Etnográfico para fotografar, gravar, comprar objectos tradicionais como instrumentos musicais, "marimbas", "kissanjes", tambores, ou mobiliário como bancos forrados a pele de cabra, cadeiras de sobas, máscaras de rituais de magia ou animista, armas, particularmente com aplicações em ferro, artefactos de pesca ou caça, letras de velhas canções evocando a memória de famosos caçadores e guerreiros como o grande Chipinda Ketele, grande caçador enamorado da filha de um rei da Lunda. Grandes caminhadas as nossas, conversando, ouvindo, sentindo, aprendendo. No fundo seguia o exemplo desse amigo Manuel Baptista, rapaz de Chaves, topógrafo, também ele na Diamang, vivendo no Lucapa, bem casado com uma rapariga amorosa, que carinhosamente chamávamos de Lola e que com os dois magníficos filhotes constituíam uma excelente família nuclear. Também ele calcorreando a "chana" no seu pesado Land Rover topografando essas terras a perder de vista que ocultariam preciosos filões, ou não.

1 comentário: