Deitados, os olhos autenticamente fechados, o cérebro praticamente desligado, desligado do mundo dos seres activos. Nesses cérebros-quase-anjos desligados dos ruídos, da sordidez dos projectos de enriquecimento, da luxúria, ganância, malícia, crueldade ou mentira - ou da santidade dos inocentes, das orações diárias murmuradas com o fogo da Fé intensa e intrínseca, esses seres assumem um ar de quase santidade, um ar da mais pura inocência. Um ditador não range os dentes a dormir nem apunhala o ar com gestos incontroláveis. Um assassino geme ou chora, ri-se ou balbucia serenamente enquanto as correntes cerebrais amainam e o seu consciente é submerso pelo mundo antigo da sua infância.
A dormir, serenamente, somos todos anjos porque as mãos estão libertas dos instrumentos de morte e o cérebro esqueceu momentaneamente a gula, a insensibilidade e o amor cego à perversão e ao pecado.
A Humanidade devia ter, por determinação natural um sono de 16 horas diárias que nenhuma droga ou processo científico conseguisse bloquear.
Talvez o mundo fosse um pouco mais limpo e o Homem um pouco mais puro e meditativo.
(Quinto Barcelos, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra/Mestre, F.L.U.Porto)
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